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Por: Marcos Spínola Nazareth*
O Relatório Focus[1] publicado pelo Banco Central do Brasil no último dia 04 de outubro apresentou, mais uma vez, aumento nas expectativas de mercado para o principal índice de inflação da nossa economia, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) calculado e divulgado mensalmente pelo IBGE[2]. As projeções, por enquanto, são de que os preços de referência da nossa economia terminem 2021 com variação positiva de 8,51%, muito próximo a péssima marca de dois dígitos ao ano. O gráfico abaixo mostra que a tendência altista das expectativas de inflação para 2021 (linha azul) vem desde o início desse ano.
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Fonte: Relatório de Mercado Focus – BCB.
Sabe-se que o fenômeno inflacionário de uma economia é altamente complexo, especialmente nas atuais economias altamente sofisticadas e globalizadas, dependente de diversas variáveis e sujeito a todo tipo de choques. Sendo assim, as interpretações das possíveis causas de uma aceleração da inflação e suas consequências não são tarefas triviais para analistas econômicos.
Dito isto, de modo geral, define-se inflação como a elevação persistente e generalizada dos preços dos bens e serviços de uma economia. Tecnicamente, a taxa de inflação é a variação percentual do nível de preços em relação ao período anterior[3].
Normalmente, altas taxas de inflação e, principalmente, expectativas de persistência do processo inflacionário ao longo do tempo impõe uma série de problemas a sociedade como: perda de poder aquisitivo da população consumidora, redução de investimentos em novos negócios (pelo aumento de incertezas quanto ao fluxo de caixa futuro), elevação dos custos empresariais e consequente redução do faturamento, aumento do desemprego etc. Estes efeitos se retroalimentam e intensificam as consequências, podendo sair completamente de controle, se não há uma atuação firme da autoridade monetária ou fiscal em tempo. Logo, manter a inflação em níveis baixos é uma das metas mais importantes dos formuladores de políticas econômicas em todo o mundo.
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Nesse sentido, a causa mais comum de processos inflacionários reportada pela literatura econômica é o excesso de oferta monetária ou excessivo aumento de liquidez pelos governos para financiar gastos ou expandir de crédito. Entretanto, como dito antes, invariavelmente o processo é complexo e envolve outros fatores. Pode ocorrer, por exemplo, aumento da procura de bens e serviços na economia, por motivos de preferências e/ou necessidades do consumidor, sem que exista uma resposta equivalente pelo lado da oferta.
Há ainda outras três razões explicativas para aumentos persistentes dos preços numa economia: (i) a inflação de oferta que é aquela em que há um aumento nos custos de produção da economia e/ou em virtude da elevação do câmbio, das taxas de juros, salários, combustíveis e tarifas públicas; (ii) a inflação estrutural que se relaciona com a ineficiência de serviços de infraestrutura fornecidos pela economia e, portanto, na rigidez de sua oferta; e, por fim (iii) a inflação inercial que decorre de expectativas altistas dos agentes econômicos em função de uma memória inflacionária, alimentada pela elevada indexação (correção monetária automática) de toda economia.
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Dessa maneira, analistas tem sugerido que essa aceleração inflacionária brasileira, no fim das contas, recebe influência desses quatros fatores, em diferente graus: aumento excessivo da demanda em função das políticas monetárias e fiscais dos últimos meses no sentido de aumentar liquidez e gasto na economia para combater a crise, concomitantemente com a redução da oferta em diversos setores por causa de todas as incertezas relacionadas a pandemia e desarranjos nas cadeias de suprimentos; o ressurgimento dos problemas crônicos da infraestrutura brasileira como, por exemplo, insuficiência de equipamentos e mão-de-obra qualificada para setores tecnológicos e crise energética por causa do estresse hídrico, além dos aumentos dos preços por causa da elevação dos custos associados a elevação da taxa de câmbio e preços dos combustíveis;
Evidentemente que a inflação tende a prejudicar mais as camadas menos favorecidas da sociedade porque elas costumam destinar a maior parcela da sua renda para itens de consumo relativamente aos mais ricos da sociedade. Estes últimos, por outro lado, reservam uma parte maior dos seus rendimentos para ativos e investimentos que, a rigor, repõem as perdas de valor impostas pela inflação. Além do mais, quando há um agravamento da situação como assinalado mais acima, os mais pobres são os primeiros a perderam o emprego, sem normalmente possuírem reservas de emergência e boa qualificação para procurarem novas oportunidades.
Logo, é preciso combater o início desse processo inflacionário no Brasil com os remédios oferecidos pela ciência econômica: política monetária credível e focada em trazer as expectativas de inflação para o centro da meta; direcionar as despesas públicas para resolver problemas crônicos de infraestrutura, além de implementar reformas institucionais que melhore o ambiente de negócios; e, por fim, mas não menos importante, desindexar a economia brasileira, favorecendo o aumento de preços atrelado ao aumento de valor dos bens e serviços e de produtividade dos negócios. Fazendo assim, a economia crescerá com boas oportunidades para todos, aumento de renda dos trabalhadores e preços estáveis.
Por: Marcos Spínola Nazareth – Professor de Economia Univiçosa e Pesquisador PAEG/UFV.
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[1] A íntegra do Relatório com todas as projeções, inclusive de outros índices de atividade econômica, acessar: https://www.bcb.gov.br/publicacoes/focus
[2] Para mais informações sobre o IPCA, como metodologia de cálculo e outros detalhes, consultar link: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/precos-e-custos/9256-indice-nacional-de-precos-ao-consumidor-amplo.html?=&t=o-que-e
[3] Na situação acima, a expectativa de uma taxa de inflação de 8,51% em 2021 refere-se à variação em relação a 2020.