A saúde sistêmica do nosso corpo exige uma boa condição de saúde intestinal, uma vez que ambas estão intimamente relacionadas e envolvem a manutenção e absorção adequada de nutrientes, bem como o controle de bactérias, seus subprodutos e das toxinas. Por isso dizemos que cuidar da saúde intestinal afeta diretamente todo o sistema, incluindo a imunidade, a saúde neurológica e emocional, do controle do centro da fome e saciedade… Enfim, é um olhar que nos convida a tratar do chamado eixo intestino-cérebro, que comandam todo o funcionamento do corpo.
O cuidado com a saúde intestinal exige atenção especialmente aos alimentos com potencial alergênico, ou seja, aqueles alimentos que provocam alteração no equilíbrio intestinal e consequentemente em todo sistema. Por isso, é importante o acompanhamento de um Nutricionista para que este processo seja de acordo com sua realidade.
Existem diversas maneiras de cuidar do intestino e tudo que vimos até aqui, já nos favorece neste cuidado, mas há um programa muito bem descrito e documentado pelo Institute for Funcional Medicine (IFM) e pelo Centro Brasileiro de Nutrição Clínica Funcional (CBNF) que consiste na recuperação do trato gastrointestinal a partir de 6 pilares baseados em seis verbos iniciados com a leta “R”, por isso ficou conhecido como “Programa 6 R’s”. São eles: Remover, Reparar, Recolocar, Reinocular, Reequilibrar e Reavaliar, que resumidamente estão descritos a seguir:
1) Remover: Significa que antes deincluir uma alimentação mais elaborada ou cheia de suplementos, simbióticos ou ajustada, é importante remover os alérgenos alimentares, toxinas, patógenos, xenobióticos, alimentos inflamatórios, que favoreçam o supercrescimento bacteriano e fúngico, assim como eliminar os fatores estressantes (controle de ansiedade, sono, estresse de rotina e outros);
2) Reparar: diz respeito ao cuidado como epitélio intestinal à partir da inclusão de alimentos não irritativos, ou seja, hipoalergênicos, ricos em nutrientes e compostos bioativos (fitoquímicos). Aqui já é possível incluir uma alimentação reforçada ou suplementação auxiliar para o reparo da mucosa intestinal como, por exemplo, glutamina, ômega-3, vitaminas do complexo B, zinco, vitamina A, C, D, e E;
3) Recolocar: neste R, é importante termos atenção plena no processo de mastigação, que inicia o processo de digestão. Aqui tratamos da ação das enzimas digestivas e ácido clorídrico, por isso, é importante já ter observado como estes agentes estão atuando, se na condição de normo, hipo ou hipercloridria. Se necessário, é aqui que serão recolocadas as enzimas digestivas e o ácido clorídrico por meio da inclusão de chás digestivos (chá verde, erva doce, hortelã pimenta e outros) e enzimas como bromelina (do abacaxi) e papaína (do mamão).
4) Reinocular: fase que deve ser pensada no mínimo 30 dias após a anterior. Busca priorizar ao máximo o consumo de alimentos ricos em fibras prebióticas* (#3 – Fibras alimentares: saiba qual é a melhor para você! – Série: “Alimentação sem “sofrência”!), polifenóis (como resveratrol das uvas) e alimentos fermentados (kefir e kombucha) para contribuir com o crescimento de bactérias que melhoram o controle da ingestão alimentar. E, após avaliar a necessidade individual, será o momento de reinocular os probióticos como: Lactobacillus acidophilus, Bifidobacterium bifidum, Enterococcus faecium, Lactococcus lactis.
*Ainda, nesta etapa, poderá ser introduzida a suplementação de prebióticos como FOS (fruto-oligossacarídeos), inulina, polidextrose, goma acácia (FibreGum).
5) Reequilibrar: fase que enfatiza os hábitos de vida saudáveis, como gerenciamento do estresse físico e emocional. Aqui é o momento focado no comportamento, incluindo meditação, comer com atenção plena, melhora da qualidade do sono e atividade física. Vale reler nosso primeiro post da série!! (#1 – É possível manter uma vida saudável sem restrições alimentares? – Série: “Alimentação sem “sofrência”!).
6) Reavaliar: fase realizada após 30, 60, ou 90 dias da anterior, quando verificamos se os objetivos foram alcançados, se houve melhora na saúde de um modo geral e, a partir disso, reavaliar as condutas nutricionais. Algumas vezes, é interessante registrar os alimentos escolhidos em cada refeição, objetivando avaliar seus sintomas, sua piora ou melhora com cada estratégia.
Quando se trata de casos específicos de alterações intestinais, é essencial que o indivíduo esteja sob acompanhamento de um nutricionista, a fim de trazer cada um desses passos à sua rotina alimentar e contexto de vida. Desse modo, o que parece complexo, difícil ou impossível para muitos, sob o acompanhamento adequado, se torna perfeitamente possível e realizável e traz inúmeros benefícios à saúde e qualidade de vida de cada indivíduo.
Enfim, quer viver com saúde? Cuide bem do seu “cérebro”, ou melhor, dos centros de comando do seu corpo, seja aquele que mora no seu abdômen ou na sua cabeça!
*Por: Mônica de Paula Jorge, professora do curso de Nutrição da Univiçosa e preceptora de estágios da Clínica Integrada da Univiçosa.
#3 – Fibras alimentares: saiba qual é a melhor para você! – Série: “Alimentação sem “sofrência”!
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