Por Maressa Fonseca *
“A casa é o nosso canto do mundo. Abriga o devaneio, protege o sonhador, permite sonhar em paz.” (Gastón Bachelard)
O que vem a sua mente quando você pensa em casa?
Para mim, casa é acolhimento: “vamos lá em casa tomar um café?” Casa é o lugar em que a gente volta depois de um dia agitado, toma um banho, coloca uma roupa confortável, come aquela comidinha gostosa, fala do nosso dia com as pessoas queridas, descansa.
Já percebeu que casa lembra família? “Lá em casa, todo mundo gosta de feijoada!” E essa família pode ser tanto aquela que nos trouxe à vida e nos cuidou, quanto a família que nós escolhemos para cuidar e para viver. “Quem casa, quer casa”, já ouviu?
Nós, arquitetos, amamos casas. A habitação é um tema histórico e essencial para a Arquitetura, pois as casas são o reflexo dos modos de morar das pessoas.
E o que são modos de morar?
Os modos de morar são as diversas formas em que as pessoas habitam as suas casas, e isso tem a ver com as formas como elas também vivem as suas vidas. Eles falam muito sobre a cultura de uma sociedade, seus hábitos, os tipos de relações familiares, e até mesmo sobre as orientações políticas e existenciais das pessoas.
Casa Modernista da Rua da Bahia (Gregory Warchavchik), Casa de Vidro (Lina Bo Bardi), Residência Oscar Americano (Osvaldo Bratke)
Em um período específico da História da Arquitetura a habitação foi um grande tema de debate e de produção. Foi no Movimento Moderno que muito da forma de morar que conhecemos hoje se desenvolveu. Você sabia que ambientes com funções específicas (dormir, cozinhar, higienizar, descansar, etc.) não eram tão comuns no passado? Até mesmo se você visitar uma fazenda ou uma casinha de sapê, você pode ver que existem poucos cômodos nessas moradias.
Com a pandemia do coronavírus, muitos de nós tivemos uma rotina de passar mais tempo nas nossas casas. O trabalho mudou, o estudo mudou, nossas interações sociais e nossas atividades foram confinadas num só espaço.
Pensando nisso, fiz uma proposta aos estudantes-futuros-arquitetos da turma de ARQ 112 – Arquitetura Brasileira II: reformarmos habitações icônicas da arquitetura modernista brasileira para adaptá-las a uma nova realidade de trabalho em casa.
Casa Modernista da Rua Santa Cruz (Gregory Warchavchik), Casa de Canoas (Oscar Niemeyer), Edifício do Conjunto JK (Oscar Niemeyer)
Foi uma experiência muito interessante e bonita, pois foi preciso analisar as obras arquitetônicas, conhecer o seu contexto, seus arquitetos e clientes e pensar em como elas poderiam ser reformadas para um possível uso atual.
Você pode conferir alguns desses trabalhos aqui e espero que goste tanto quanto eu. 😊
Análise: Casa Modernista da Rua Santa Cruz, arquiteto Gregory Warchavchik (1927).
Proposta: Novo layout interno e espaços exteriores para organização de eventos, afinal a cliente é uma produtora de eventos que quer conciliar trabalho e família.
Estudantes: Emiliana Mercedes, Luiza Kfuri e Thaynara de Melo.
Análise: Residência Oscar Americano, arquiteto Oswaldo Bratke (1952).
Proposta: Criação de um ateliê e galeria de exposição de arte para um casal, um arquiteto e uma artista plástica.
Grupo: Letícia Paiva, Luísa Cruz e Rafaela Silva.
Análise: Conjunto JK, arquiteto Oscar Niemeyer (1961).
Proposta: Adequar um apartamento para um chefe de cozinha que também grava vídeos de receitas em casa.
Estudantes: Karine Almeida, Jamille Colatino e Thamara Ramalho.
*Por: Maressa Fonseca e Souza – arquiteta e urbanista, professora no curso de Arquitetura e Urbanismo da Univiçosa em disciplinas das áreas de História e Projeto Arquitetônico. Atualmente desenvolve sua pesquisa de doutorado investigando os modos de morar na habitação estudantil universitária. Você pode encontrá-la em @maressa.arq.
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